O Brasil é um dos países que mais tem dentistas do mundo. De acordo com o Conselho Federal de Odontologia (CFO), a média do país é de um profissional por 634 habitantes. Porém, apesar dos dados, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que apenas 15% da população cuida da saúde bucal com regularidade e, por causa dessa falta de cuidado odontológico, pessoas podem adquirir problemas graves de saúde.
Buscando entender melhor a ligação entre o descuido dos dentes e doença cardiovascular grave, um grupo de pesquisadores, liderado pelo professor Isaac Suzart, com o apoio da Uefs (Universidade Estadual de Feira de Santana), estudou a relação da periodontite, doença inflamatória crônica no tecido gengival, com o infarto.
A investigação sobre a associação entre o nível de gravidade da periodontite e o infarto agudo do miocárdio surgiu após a publicação de um estudo londrino sobre a relação da gravidade de inúmeras doenças inflamatórias crônicas e algumas doenças cardíacas e diabetes. “Os autores observaram que, além dos fatores de risco reconhecidos e considerados clássicos relacionados, por exemplo, à doença cardiovascular, tais como o hábito de fumar e o tipo de dieta do indivíduo, ainda existiam outros fatores não clássicos que elevavam a ocorrência tanto das doenças cardiovasculares quanto da diabetes. Os pesquisadores londrinos observaram que as pessoas que tinham doenças inflamatórios crônicas mais graves tinham também o maior risco de desenvolver as doenças cardiovasculares e diabetes. Desse modo, diante de tal observação, decidimos estudar a gravidade do processo inflamatório gerado pela periodontite em nível cardiovascular”, explica o professor.
O estudo, coordenado por Isaac, foi realizado com 621 pacientes, 300 mulheres e 321 homens, com faixa de idade entre 40 a 91 anos. Os dados foram coletados entre setembro de 2008 e abril de 2009, entre os indivíduos que buscavam atendimento de emergência no Hospital Santa Izabel e no Hospital Ana Nery, em Salvador. Aqueles pacientes que tiveram o primeiro evento de infarto agudo do miocárdio foram convidados a participar da investigação.
Outros indivíduos que buscaram atendimento hospitalar, além de pessoas vizinhas daqueles pacientes com diagnóstico de infarto, também fizeram parte da pesquisa para comparação entre indivíduos com e sem infarto. Todos os participantes tiveram avaliação da condição bucal e foram diagnosticados de acordo com a ordem crescente do nível de gravidade da periodontite em leve, moderada, grave ou sem periodontite.
Ao se comparar os grupos de pessoas com e sem infarto, os resultados mostraram que os participantes que possuíam a periodontite moderada e grave tinham cerca de duas a quatro vezes mais chances de ter infarto do que pessoas que não tinham a inflamação bucal. Em outras palavras, os indivíduos com periodontite moderada tinham, aproximadamente, duas vezes mais chance de terem o primeiro evento de infarto. Aqueles com diagnóstico de periodontite grave tinham o dobro de chances, isto é, aproximadamente, quatro vezes mais.
O artigo publicado no periódico oficial da Academia Americana de Periodontia e que tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) concorre ao prêmio mundial de pesquisa em periodontia SUNSTAR World Perio Research Award e, também, foi selecionado para o Perio Link Award online contest, concurso online para a população em geral. “É uma alegria muito grande, pois é um reconhecimento de um trabalho contínuo, de qualidade, de parceria e de responsabilidade. Ser indicado a um prêmio mundial na área da pesquisa em periodontia é muito relevante e representa a contribuição da ciência para a sociedade”, afirma.
Segundo Isaac, não existe outra pesquisa na mesma linha de investigação que a dele, que avalie a relação da periodontite com o infarto do miocárdio de forma tão detalhada e criteriosa em nível de método epidemiológico. O estudo feito pelos pesquisadores analisou vários níveis de gravidade da periodontite e outros conjuntos de critérios relacionados ao infarto. “Eu diria que o diferencial desse estudo é o seu procedimento cuidadoso. Ele tem um rigor metodológico que se difere e acho que, diante dessa robustez do método, despontou a ponto de ter sido selecionado para um concurso mundial na área de pesquisa em periodontia”, detalha.
A pesquisa também teve o apoio de equipes da Universidade Federal da Bahia (Ufba), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e da Universidade de Buffalo, de Nova York, nos Estados Unidos. De acordo com Isaac, a referida investigação é de grande importância para a população. “Esse estudo é benéfico para a sociedade porque trazemos o conhecimento e a conscientização da importância da manutenção da saúde bucal. A condição da boca precisa estar saudável para que todo o restante do organismo também esteja bem e funcione adequadamente. Infelizmente, ainda tem muita gente com a condição bucal muito precária”, conclui o professor.
Foto: Divulgação/Assessoria