Um percurso que marcou a história da humanidade: 60 metros em sete segundos.Naquele 23 de outubro de 1906, mais de mil pessoas, no Campo de Bagatelle, em Paris, olharam atônitas para cima. O brasileiro Alberto Santos Dumont tinha conseguido uma proeza: decolar, dirigir e pousar um avião. o “14 Bis” subiu dois metros do solo.
Cento e quinze anos depois, pesquisadores entendem que o legado deixado por Santos Dumont é imensurável. De acordo com o físico Henrique Lins de Barros, autor de quatro livros sobre o gênio brasileiro, o caminho até o voo de 1906 é de um cientista corajoso e extraordinário.
“Ele tem uma produção, em 10 anos, em que ele idealiza, constrói, experimenta mais de 20 inventos. Todos revolucionários. Ele tem intuição para o caminho certo e criatividade para ir adiante. Os colegas deles inventores diziam que ele fazia em uma semana o que os outros demoravam três meses”.
Em 1898, com apenas 25 anos de idade, Santos Dumont desenvolveu o motor à combustão para aeronave. A grande descoberta ocorreria em 1901, quando o aviador provou a dirigibilidade, contornando a Torre Eiffel com o dirigível número 5. Para o biógrafo de Santos Dumont, o escritor Fernando Jorge, esta foi uma descoberta decisiva. “A dirigibilidade é um momento supremo da história da aeronáutica”, afirma o historiador.
Outro pesquisador, Rodrigo Moura Visoni, contextualiza que os acontecimentos que envolvem Santos Dumont fazem parte de um período de efervescência científica.
“Todos os inventos modernos, exceto a internet, surgiram naquela época (final do século 19 e início do século 20). A impressão que havia era que a tecnologia resolveria todos os problemas. Era um momento em que a humanidade tinha grande esperança na ciência, Já que coisas que eram consideradas impossíveis se tornaram realidade, como a transmissão da palavra (pelo rádio) e o homem voar (pelo avião)”
Impossível, aliás, não era palavra para Santos Dumont, que saiu do interior mineiro para fazer história. Fernando Jorge explica que todos os documentos asseguram o papel precursor de quem seria reconhecido como o pai da aviação.
“A prioridade de Santos Dumont é incontestável. As fotografias da época provam isso. É o momento culminante da genialidade de um homem”, afirma o biógrafo.
O físico Henrique Lins de Barros lembra que as invenções de Santos Dumont eram acompanhadas de rigor científico. “Quando ele tem um erro ou um problema, ele escreve o que deu errado. Ele avisa: tomem cuidado”.
Divulgador científico, aviador corajoso, inventor curioso. O som do 14-bis ecoa pelo tempo. e, não só quando olhamos para os céus, mas também quando constatamos que sonhos podem se transformar em realidade.
Repórter da Radioagência Nacional – Brasília
Edição: Nathália Mendes – Beatriz Arcoverde