Voto racial, apoio a Lula e segurança como flerte com opinião pública; veja sabatina de Kleber Rosa

O candidato ao governo da Bahia pelo Psol, Kleber Rosa, foi o quinto entrevistado na série de sabatinas promovida pela Rádio Metropole. Conduzida por Mário Kertész, José Eduardo (Bocão) e pelo jornalista Rodrigo Daniel Silva, a entrevista do candidato foi marcada por declarações contra as propostas de outros candidatos para a segurança pública e posicionamentos sobre a decisão do Psol em apoiar a candidatura do ex-presidente Lula. Além disso, Rosa comentou ainda sobre o candidato ACM Neto ter se autodeclarado pardo à Justiça Eleitoral.

Confira os destaques: 

Apoio a Lula 

Questionado sobre seu partido ter declarado apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Kleber Rosa explicou que essa não foi uma decisão unânime dentro da sigla, mas que, após debates e discussões, foi determinado o apoio como uma forma de se posicionar contra o governo Bolsonaro.

“Acredito que hoje a compreensão é de que foi uma decisão acertada, mesmo entre aqueles que insistiram numa candidatura própria. E isso se dá pela conjuntura específica que estamos vivendo, que envolve a cultura bolsonarista, que é indiscutivelmente uma cultura facista, de estímulo ao armamento da população, de intolerância aos grupos minoritários – como a população negra, indígena – às demandas feministas”, afirmou o candidato.

Ao comentar sobre a o Governo Bolsonaro, Kleber destacou ainda “a perspectiva de instituir um estado autoritário”, e o “estado de extrema pobreza que se instalou no país”.

“Esse conjunto de coisas expõe o quanto é urgente virar a página do bolsonarista e Lula é quem melhor se posiciona para fazer esse enfrentamento. Em que pesem as nossas diferenças, que não são poucas, a gente avaliou que era o momento de uma ampla unidade para derrotar o bolsonaro”, completou.

Segurança pública 

Durante a entrevista, o candidato do Psol destacou a forma que, segundo ele, a segurança pública deve ser enxergada. Para Rosa, a direita tem a compreensão de que a violência é um produto da degeneração do indivíduo, que precisa ser abatido. Já para ele, a violência é resultado da exclusão social.

“Se a gente for analisar isso de forma profunda, vamos ter que voltar para o que foi o projeto de sociedade posterior à abolição. A República foi fruto de uma articulação das elites, que não previu incluir a população negra recém liberta da escrevidão. Temos um projeto de exclusão absoluta dessa população, que é jogada na marginalidade, na criminalidade e é criminalizada […] a estratégia das elites para lidar com essa população era através da força”, afirmou.

O candidato do Psol foi enfático: “a gente resolve o problema [da violência] fácil, é só promover a inclusão”. Ele defendeu que é preciso tratar a causa da violência, mas declarou também que é preciso tratar o problema de forma imediata.

Questionada sobre o crescimento da população carcerária durante os governos de esquerda, Kleber afirmou que a inclusão social não aconteceu na sua amplitude. “Se resumiu a um programa de governo, precisamos de um programa de estado. A inclusão social traz resultados a médio prazo, não é imediata”, respondeu.

Discursos dos concorrentes

Sobre seus principais concorrentes no pleito pelo palácio de Ondina, Rosa declarou que, apesar de tentativas de se diferenciar, ele enxerga muito mais semelhanças do que diferenças. Uma das semelhanças é o modelo de combate à violência defendido pelos candidatos.

“Todos os candidatos que estão aí dizem que o problema da segurança é que o confronto não é suficiente. Querem mais. ACM Neto diz que as armas dos policiais são inferiores às dos bandidos. Vai fazer o que? Comprar canhão? Catapulta para incendiar a favela? É ridículo. Tratam o policial como se fosse um indivíduo que está ali para matar e pra morrer, como se não fosse um trabalhador, que tivesse família”, declarou o candidato.

Para o candidato, neste discurso de combate à violência defendido por seus concorrentes, existe uma tentativa de flertar com os votos dos profissionais da segurança, que ao mesmo tempo são vistos como uma máquina de guerra. Investigador da Polícia Civil, Rosa atribuiu a esse modelo de combate à violência o crescimento no número de suicídios e de quadros de depressão entre os policiais.

Busca por espaço

Sem pontuar na última pesquisa do Datafolha contratada pela Rádio Metropole, Kleber Rosa falou também sobre o desafio de se tornar conhecido. Ele assumiu que hoje é um dos candidatos mais desconhecidos e que, na política, não existe milagre.

“Minha ocupação de espaço é limitada pelo tamanho da minha candidatura. Coloco isso com muita tranquilidade. Agora estou aqui ganhando voto, não peço, eu conquisto voto. Entendo que não existe milagre”, declarou.

O candidato do Psol afirmou ainda que é muito questionado sobre como ele governaria sem apoio da maioria dos deputados. Citando a aprovação popular que tinha o então presidente Lula durante seu último mandato, o candidato do Psol afirmou que será a aprovação da população que o ajudará. “A gente governa com o povo, isso não significa ser autoritário com o parlamento, significa que o parlamento se orienta com a opinião do povo”, afirmou.

Sobre o mandato do ex-presidente Lula, Rosa afirmou que o Brasil perdeu oportunidade de fazer mudanças estruturantes e terminou fazendo apenas mudanças de políticas de governo. Sobre a criação do Psol, o candidato atribuiu a decisão justamente à “concepção de que podíamos muito mais naquele governo”.

Voto racial

Questionado sobre o candidato ACM Neto ter se autodeclarado pardo à Justiça Eleitoral,o candidato do Psol relacionou o caso a estratégias de marketing que buscam conquistar o voto racial.

“Não tenho dúvida que as pessoas estão sendo seduzidas por isso [voto racial]. Não é à toa, ai você traz o ACM Neto se assumindo negro, que existe esse flerte. Não é à toa que, a cada campanha, as pessoas trazem personagens populares e negros para dialogar com essa população, as pessoas fazem musicas que dialoguem com essa população”, disse.

Para Rosa, a estratégia utilizada por esses candidatos acaba confundindo os eleitores que tendem ao voto racial. “Eles dizem que são populares, ainda que não sejam. Nenhum candidato diz ‘eu sou branco, sou da elite, mas quero um voto seu’. Precisam criar estratégias e eles criam”, destacou.

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