Criada em 2014, campanha do Setembro Amarelo ainda se mostra ineficaz; veja números e entenda

Ontem (sábado, 10 de setembro) foi o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio e, normalmente, ao longo do mês todo você deve ouvir falar sobre esse tema, por causa do Setembro Amarelo; uma campanha criada em 2014 com o intuito de diminuir os altos índices de pessoas que decidem interromper a própria vida. Porém, mesmo com essa ação, os números relativos ao suicídio não vêm sofrendo nenhum tipo de alteração que mostrem algum tipo de resultado positivo, desde a implantação da data.

De acordo com o DataSUS, plataforma do Governo Federal que concentra informações relativas à saúde no Brasil, os suicídios aumentaram 35% entre 2011 e 2020, sendo, apenas neste último ano, contabilizados 12.895 casos. Abaixo você confere um gráfico do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, de número 52, que computa a “mortalidade por suicídio e notificações de lesões autoprovocadas no Brasil”, publicado em setembro de 2021, mostra a evolução referente a 2010 e 2019.

dados

Um material publicado pela psiquiatra Carla Barbosa Brandão, onde ela analisa os dados relativos ao suicídio, mostra que em algumas categorias populacionais específicas a morte autoprovocada está estagnada, mas na maioria esse índice só tem aumentado, a exemplo da população entre 15 e 29 anos. “não foi identificada alteração de tendência na frequência de suicídios a despeito da implementação da campanha na população geral”, diz a médica.

Segundo o psicólogo Danilo Cruz, esse estudo promove uma discussão sobre a divulgação de maneira não regulada do tema. “Há que se falar ainda sobre a “positividade tóxica” carreada por esse tipo de estratégia: falas repletas de uma simplificação forçada, como ‘viver é o melhor remédio’, ‘veja o lado bom da vida’, ’esqueça isso e siga adiante’, etc., são formas de estimular o mecanismo de defesa do ego chamado ‘negação’, ou seja, jogar a sujeira para baixo do tapete.

Para o profissional, esse tipo de campanha, por vezes, segue uma lógica desconsidera problemas sociais estruturais e, frequentemente, se apresentam com um viés moralista e, ainda, em uma atitude corporativista, em busca de lucratividade, propondo acolhimentos que, segundo Danilo, seriam de “fachada”. “Lidar com temas sociais relevantes sob a forma de campanhas “coloridas” (em vez de ações afirmativas contínuas e sistemáticas) tem se mostrado uma estratégia ineficaz, visto que sobrecarrega serviços e profissionais na promoção de atividades deslocadas de sua atuação, engendrando a ilusão de avanço acerca da temática, sem produzir eficiência”, detalhou o psicólogo.

Mas afinal das contas, o que pode ser feito para que esses altos índices de mortes autoprovocadas tenham, enfim, um declínio? Como campanhas desse tipo poderiam contribuir com isso? Seria necessário o fomento de um modo de vida que tenha como foco o bem-estar, como, preconiza-se, por exemplo, os direitos listados na Constituição brasileira.

Danilo fala de uma “uma campanha de promoção e valorização da vida deve fomentar, necessariamente, a defesa de um modo de vida que enfatize e priorize o bem-estar de sujeitos e coletividades; que acolha e promova as diversidades e os direitos humanos; que promova condições de alimentação e moradia digna, segurança, trabalho protegido, educação de qualidade, um Sistema Único de Saúde público e universal, com acesso a cuidado em saúde mental na perspectiva psicossocial e antimanicomial, políticas econômicas e sociais que atendam às necessidades de todas as pessoas”.

Vale destacar que a possível ineficácia da campanha não tira importância dela, afinal, olhar para esse público já é um avanço. Porém, ainda é preciso estudos e pesquisas para identificar qual o melhor modo de fazê-la e como isso pode ser tornar um “ano amarelo”, já que, diferente de uma doença, as vezes não há tempo para tratar aquele que deseja cometer suicídio.

 

Postagens Relacionadas

Leave a Comment