Por Lily Menezes
Peças chave para a realização do Censo 2022, que traça um retrato da população brasileira, os recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) decidiram cruzar os braços por tempo indeterminado a partir desta quinta-feira (01). A paralisação já tinha sido sinalizada pelos profissionais desde a semana passada, por conta de atrasos recorrentes no pagamento dos salários. Durante o dia de ontem, grupos de recenseadores de pelo menos cinco cidades, incluindo Salvador, organizaram atos para protestar contra a situação, exigindo maior agilidade do IBGE.
Os trabalhadores da capital baiana fizeram seu protesto na Estação da Lapa. Vale dizer que o Censo volta a acontecer depois de dois anos de suspensão, motivados pelo próprio contexto de pandemia e uma baixa significativa nas verbas destinadas ao levantamento. A demora no repasse dos pagamentos aos recenseadores tem um agravante: antes de soltar o dinheiro, o IBGE faz uma revisão das pesquisas feitas nas regiões visitadas pelos agentes, para checar se o trabalho foi concluído e se há erros de preenchimento. Contudo, a queixa da categoria é de que o intervalo entre a checagem e o pagamento tem se estendido indefinidamente.
Outra preocupação dos recenseadores é a segurança durante as entrevistas. Alguns deles chegaram a relatar dificuldade em ir a certas localidades, por conta de ameaças verbais ou até físicas. “Tem rua que você simplesmente não pode entrar, porque ‘os donos’ não deixam. Já teve colega que ficou na mira de uma arma, e acabou desistindo por causa disso”, disse a agente Jamile Santos. “Eu, pessoalmente, prefiro voltar com mais alguém quando chega de noite. Sozinho, não dá, daqui a pouco eu levo um tiro, sei lá… Infelizmente a gente tá totalmente vulnerável, quando só estamos fazendo o nosso trabalho”, disse outro recenseador, que preferiu não se identificar por medo de represálias.
Representante da categoria dos recenseadores, a Associação não oficializou a greve, mas apoia o movimento independente e confirma as dificuldades passadas pelos agentes do Censo. Já a Superintendência do IBGE na Bahia se posicionou através de nota, dizendo que iria se reunir com o grupo de trabalhadores que se manifestaram na Lapa para dialogar a respeito das demandas, ressaltando ainda que “está atenta às reivindicações dos recenseadores e busca todas as formas possíveis de aprimorar as condições de trabalho dos agentes”. Quanto aos pagamentos, o IBGE disse ter sanado “em torno de 95% dos atrasos”.