(FOLHAPRESS) – Numa tentativa de diminuir a resistência do setor agropecuário a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lideranças ruralistas que aderiram à campanha do petista se reuniram com aliados do ex-presidente para debater pontos que podem ser incorporados ao plano de governo da chapa.
O senador licenciado Carlos Fávaro (PSD-MT), o deputado federal e ex-ministro de Dilma Rousseff (PT) Neri Geller (PP-MT) e o empresário Carlos Augustin se encontraram nesta sexta-feira (22), em São Paulo, com integrantes da campanha de Lula.
Estavam no encontro o ex-ministro Aloizio Mercadante, coordenador do programa de governo e presidente da Fundação Perseu Abramo, e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato à vice e designado pela campanha para articular a aproximação com o agro.
Também está em jogo a articulação política para tentar alcançar um segmento que, até agora, tem mostrado apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e resistido a Lula.
Na reunião desta sexta, começou a ser desenhada, por exemplo, uma agenda de encontros de Alckmin após a convenção do PSB —marcada para o próximo dia 29— com representantes do agronegócio em Mato Grosso, estado dos dois parlamentares, e também em São Paulo. Um dos encontros deve ser com o Fórum Agro, que reúne diversas entidades do setor.
“A gente começa as conversas por sindicatos, partidos políticos e pessoas ligadas ao agro. Começa por lá, e estamos organizando alguns lugares também em São Paulo. Depois a gente começa a fazer uma agenda pelo Brasil. Ao menos essa é a intenção”, afirmou Geller após a reunião.
As lideranças ruralistas propuseram a Mercadante e a Alckmin, por exemplo, um programa para recuperação de pastos degradados, um mecanismo de incentivo ao chamado crédito verde, e redução de juros para plantio e compra de maquinários.
“Esse setor moderno da agricultura tem conhecimento dos desafios diplomáticos e comerciais. Nós estamos aqui dialogando com esse setor moderno da agricultura. É um setor muito importante, que tem contribuições, que já ajudou a formular políticas públicas no passado e, seguramente, o fará no futuro próximo”, afirmou Mercadante.
Reservadamente, políticos envolvidos nas conversas afirmam que a tentativa principal é a de “neutralizar” o setor, garantindo que os empresários ao menos não façam campanha contra o petista.
“Eu estou aqui por convicção. Todos sabem que, lá no estado [Mato Grosso], ideologicamente, do ponto de vista político, para nós, não é uma tarefa tão fácil, diferente de outros estados. Nós estamos convictos de que estamos fazendo o que é correto para o país”, completou Geller.
Carlos Augustin é produtor de soja e algodão e é irmão do economista Arno Augustin, ex-secretário do Tesouro Nacional de Dilma.
Ele afirma que é preciso garantir juros diferentes para cada cultivo, além de oferecer crédito mais barato para produtores que dão preferência aos defensivos biológicos —uma alternativa aos agrotóxicos.
“Precisamos pôr de volta as questões ambientais na mesa de negociação. Não privando o agricultor de nada, mas sim incentivando e dando melhores condições de juros e taxas para ele colaborar com essa pauta [ambiental], que é mundial.”
O senador licenciado Carlos Fávaro afirma que pretende levar propostas de “investimentos com vocação ambiental”. Fávaro foi diretor e presidente da Aprosoja-MT (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), que hoje é dominada por apoiadores de Bolsonaro em todo o país.
“Se tiver um programa de investimento para você melhorar pastos degradados, trazendo fertilidade, calcário, adubo, e produzindo grãos intercalados com pecuária, você coíbe o desmatamento de novas áreas.”
“Nós temos 11 milhões de hectares [em Mato Grosso] que são pastagens, que já foram antropizadas e podem ser convertidas em lavoura e pecuária. É muito melhor investir nessas [terras] do que continuar o que está acontecendo na Amazônia.”
Em jogo não estão apenas pautas agrárias, mas também a articulação política entre PP e PT.
O apoio de setores do agro de Mato Grosso a Lula foi selado durante a visita do ex-presidente a Brasília, na última semana, quando ele se encontrou com Fávaro e Geller, além de outras figuras da política do estado, como a primeira-dama de Cuiabá, Márcia Pinheiro.
Daí em diante, construiu-se o arranjo para que Geller busque um lugar no Senado e tenha Márcia Pinheiro como suplente —seu marido, o prefeito da capital, Emanuel Pinheiro, é figura presente nas reuniões que debatem o tema no estado.
Fávaro, que está na metade do mandato no Senado, também avalia disputar o governo caso o atual governador Mauro Mendes (União Brasil) confirme a aliança com Bolsonaro.
O acordo entre PP e PT no estado significa que Lula receberá o apoio de Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do Brasil, cacique político de Mato Grosso (hoje no Progressistas) e ex-ministro da Agricultura do Michel Temer.
O irmão de Maggi, inclusive, já criticou publicamente Bolsonaro, a quem chamou de “ruim de serviço”.
A aproximação de Geller com Lula não teve resistência do atual ministro de Bolsonaro, Ciro Nogueira (Casa Civil), um dos líderes do partido junto com Arthur Lira (PP-AL).