Depois da operação da Polícia Federal envolvendo o ramo de criptomoedas em Cabo Frio, a Igreja Universal do Reino de Deus entrou com uma ação judicial de produção antecipada de provas. O documento tem finalidade de antecipar a resolução de conflitos. Glaidson Acácio dos Santos, dono da GAS Consultoria, que foi preso na última semana por suspeita de pirâmide financeira, era membro da igreja situada em Cabo Frio, conforme a ação. Assim como os milhares de fiéis, ele colaborava “com o sustento do templo”.
Segundo a Universal, a partir de maio de 2020, foi verificado um “expressivo aumento no volume de doações recebidas no templo de Cabo Frio, materializadas por meio de transferências bancárias realizadas por Glaidson e, também, pela empresa por ele controlada”, a GAS Consultoria. Nos últimos 14 meses, segundo o documento, foram efetuadas transações de mais de R$72 milhões.
“Em razão do exorbitante valor – que foge totalmente ao padrão de doações dos fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus -, o bispo Jadson Santos, líder da Igreja Universal do Reino de Deus no estado do Rio de Janeiro, procurou Glaidson, cobrando informações, na tentativa de entender a real motivação de tal modo de proceder”, diz uma parte da ação.
Glaidson se desligou da instituição religiosa e deixou de frequentar os cultos, “sem apresentar nenhuma explicação”, de acordo com o documento. A partir de então, a Universal afirma que passou a buscar informações e descobriu que a GAS tem sede no mesmo endereço da empresa NS Psicologia, controlada pelo ex-pastor Nei Carlos dos Santos, que é investigado em um inquérito policial que tramita pelo Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado da Polícia Civil de Brasília.
Ainda conforme a Universal, “embora tenha recebido referidas doações de absoluta boa-fá, com a devida contabilização da entrada dos recursos financeiros”, a igreja teme acabar sendo envolvida “em crimes que não praticou, pelo simples fato de ter recebido as doações”.
Os aportes realizados por Glaidson à Universal, a título de doações, podem ser considerados, pelas autoridades, indícios de prática de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, tendo em vista o caráter atípico dos negócios, como doações feitas em valores muito altos, mediante transferência bancária ou cartão de crédito, de forma fragmentada, sem comunicação prévia, incompatível com o padrão de doações realizadas à instituição religiosa e às atividades desenvolvidas pelos doadores.
A Igreja Universal afirmou, na ação, que não tem conhecimento sobre a origem dos valores doados por Glaidson e pela GAS, nem informações precisas sobre a legalidade das atividades exercidas por ele, que teriam possibilitado o acúmulo dos recursos.
“Sem os documentos e informações que se encontram em posse dos Réus, restará a Universal impossibilitada de prestar esses esclarecimentos, podendo ser investigada e até sancionada, a partir da injusta vinculação a práticas duvidosas, com as quais não tem nenhuma relação, envolvimento, ou sequer conhecimento”, diz o documento, que pede, em tutela de urgência, para que Glaidson apresente os comprovantes das transferências e depósitos realizados entre maio de 2020 e julho de 2021, demonstrando a origem lícita dos valores doados.