Foto: GOVBA/
Das 438 pessoas mortas com a atuação das polícias baianas, 394 eram negras. O número corresponde a 89,95% do total e mostra que o município, como capital, segue a estatística do estado. No ano passado, negros somavam 94,76% das pessoas mortas em ações policiais ocorridas na Bahia. Dos 1.465 mortos no estado em decorrência delas, cerca de 1.380 eram pretos ou pardos – que compõem o grupo.
Além de Salvador, outras cinco cidades figuram como as que têm as policiais mais letais no território baiano. São elas: Feira de Santana, Camaçari, Jequié, Alagoinhas e Ilhéus.
A cerca de 100 km da capital, está a 2ª colocada no ranking: Feira de Santana, com 86 vítimas negras. Já Camaçari, que fica na Região Metropolitana (RMS), ocupa o 3ª lugar, com 43 vítimas. Confira abaixo:
De acordo com a organização, o o boletim “Pele alvo: a bala não erra o negro” é baseado em dados fornecidos pelas próprias Secretarias de Segurança Pública. O objetivo é monitorar essas ações e produzir material para se pensar em novas políticas públicas.
Além de ter negros como a maioria das vítimas das ações policiais, a pesquisa mostra o estado também como o que tem a polícia mais letal entre outros sete analisados.
Entre 2015 (quando a Bahia registrou 354 mortes) e 2022, houve um aumento de 300% nessa taxa de letalidade. Segundo o levantamento, 74,21% das vítimas mortas na Bahia, tinha entre 18 e 29 anos quando ocorreram as ações.
“Esse relatório mostra um desafio que não é circunstancial. É um desafio especial a ser enfrentado aqui no Brasil, que é a gente pensar as desigualdades existentes no país, considerando os indicadores de violência”, pontuou a pesquisadora Larissa Neves, que integra a Rede de Observatórios da Segurança na Bahia e a Iniciativa Negra.
Durante entrevista ao iBahia, Larissa ressaltou ainda como, em reflexo a essa desigualdade, as vítimas estão em áreas de periferia na maioria das vezes.
“A gente está pensando sobre como esse modus operandi da política de segurança pública funciona e como mantém uma estrutura violenta direcionada a corpos de pessoas negras, e, em sua maioria, pessoas que moram em território de periferia e vivem em situação de vulnerabilidade”.
“Pessoas negras, pessoas indígenas, pessoas de comunidades tradicionais e mulheres sempre foram postos à margem da sociedade, e isso vai ficar muito acirrado quando a gente vai olhar para a política de segurança pública também”Larissa Neves ,pesquisadora da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia e da Iniciativa Negra
O portal procurou a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) para se posicionar sobre o assunto e aguardava retorno até a última atualização desta reportagem.
Nível nacional
De 3.171 registros de morte em oito estados analisados, com informação de cor/raça declaradas, os negros somaram 87,35%, ou 2.770 pessoas. Além da Bahia, o estudo aconteceu no Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
Conforme os dados, a cada quatro horas uma pessoa negra foi morta em 2022 pela polícia. Como nos estudos anuais anteriores, o novo monitoramento demonstra o alto e crescente nível da letalidade causada pela polícia a pessoas negras.
“São quatro anos de estudo e nos causa perplexidade e inquietação observar que o número de negros mortos pela violência policial representa a imensa maioria de um total elevado de vítimas”, disse a cientista social Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios.
No Ceará, algumas informações de raça/cor dos mortos nas operações foram “negligenciadas”, como aponta a cientista. Das 152 mortes no estado, 69,74% não tiveram a informação definida. No Maranhão, o estudo não conseguiu números da Secretária.
“Ainda lidamos com uma prática de negligenciamento do perfil dos mortos por agentes de segurança, fato que impacta diretamente no desenvolvimento de políticas públicas que possam mudar essa realidade e efetivamente trazer segurança para toda a população”, completou.