Marcha das Mulheres Negras toma conta de Copacabana

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil/

Mulheres negras de várias partes do estado do Rio de Janeiro tomaram conta da orla de Copacabana neste domingo (30). Elas participaram da 9ª Marcha das Mulheres Negras, que levou para o bairro da zona sul carioca o lema Mulheres Negras Unidas contra o Racismo, Toda Forma de Opressão, Violência e pelo Bem Viver.

A manifestação foi organizada pelo Fórum Estadual de Mulheres Negras – RJ e contou com a participação de diversos coletivos ligados ao combate da desigualdade racial. O evento fecha a semana de mobilização pelo Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, em 25 de julho, e acontece na véspera do Dia Internacional da Mulher Africana.

A escritora Maria da Conceição Evaristo, dona de uma produção literária que combate a opressão do povo negro, leu o manifesto de abertura da marcha. “Vamos ocupar uma das orlas brasileiras de maior visibilidade, é um ato de coragem e denúncia”, disse ao microfone para as milhares de negras presentes.

“Marchamos pelo bem viver. O bem viver convoca a uma política de participação coletiva da população negra, de construção de poder horizontal e de distribuição dos lugares de decisão para mulheres negras”, completou a escritora que, neste mês, inaugurou um centro cultural na região conhecida como Pequena África, no Rio de Janeiro.

Juventude

A Marcha das Mulheres Negras também abriu espaço para jovens lideranças, inclusive crianças. Alia Terra, de apenas 10 anos de idade, foi uma das ativistas que discursaram. “A gente está batalhando aqui com todas as mulheres, sempre unidas, contra todo tipo de violência e racismo e pelo bem viver”, bradou, sendo ovacionada em seguida.

O ato seguiu pela orla de Copacabana com gritos de “vem para a marcha, vem!”. As participantes carregavam faixas, cartazes e ostentavam placas como retratos de mulheres negras que lutaram pela defesa, respeito e empoderamento da população preta, como a escritora Carolina Maria de Jesus, a cantora Elza Soares, a intelectual Lélia Gonzalez, a líder quilombola no século 18 Tereza de Benguela, e a vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em 2018.

Marielle presente

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã de Marielle, esteve na passeata e disse ser uma importante ressignificação ter tanta mulher negra reunida na orla de um bairro onde costumam apenas trabalhar.

“A gente está em marcha, a gente não está dispersa, pelo contrário. Que bom que a gente tem o governo federal à frente de políticas públicas eficazes, de saúde a educação, segurança, que é o mais importante. É a nona marcha. A gente sempre marchou e vai continuar marchando. Estar ao lado dessas mulheres, para mim, está dando um sentimento de acalanto e fortalecimento nesse lugar”.

Rio de Janeiro (RJ), 30/07/2023 – IX Marcha das Mulheres Negras do Rio de Janeiro, na praia de Copacabana, zona sul da cidade. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil

Passagem de geração

Algumas das mulheres presentes na marcha fizeram questão de levar filhos pequenos, em um esforço para preservar e passar adiante o interesse pela luta antirracista.

Pulchéria Silva é de Volta Redonda, cidade no sul do estado do Rio de Janeiro, que fica a mais de duas horas de carro de Copacabana. Ao mesmo tempo em que acompanhava a marcha, ela amamentava o filho de 1 ano e 7 meses.

“Temos que nos posicionar, demonstrar para a sociedade a nossa conscientização, as nossas lutas e a valorização que vem crescendo, cada vez mais, da mulher negra”, disse à Agência Brasil, afirmando acreditar que a presença do filho é uma forma de fazê-lo crescer com consciência nas raízes dele.

Dia Internacional

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (25 de julho) foi criado pela Organização das Nações Unida (ONU), durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992. No Brasil, a data também é uma homenagem à Tereza de Benguela, conhecida como Rainha Tereza, que viveu no século 18, no Vale do Guaporé, em Mato Grosso, e liderou o Quilombo de Quariterê.

O Dia Internacional da Mulher Africana, celebrado em 31 de julho, foi criado em referência à Conferência das Mulheres Africanas, em 1962, na cidade de Dar Es Salaam, na Tanzânia.

Edição: Denise Griesinger

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