As eleições de 2022 foram marcadas por recordes. Este foi o ano da apuração mais rápida e do maior eleitorado desde a redemocratização. Cresceu também o número de candidatos, e, entre eles, um grupo teve destaque, o das pessoas transexuais e travestis. Foram 78 candidaturas, um aumento de 47% em relação a 2018, de acordo com mapeamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
Das 78, cinco se elegeram. Pela primeira vez na política brasileira, duas mulheres trans foram eleitas ao Congresso, Erika Hilton (Psol/SP) e Duda Salabert (PDT/MG). As assembleias legislativas de três estados também foram ocupadas pelo grupo: Linda Brasil (Psol), no Sergipe, Dani Balbi (PCdoB), em São Paulo, e Carolina Iara (Psol), em um mandato coletivo no Rio de Janeiro.
A Bahia não elegeu nenhuma de suas postulantes, mas, neste ano, houve um crescimento relevante das candidaturas no estado, de uma para três. Das quatro candidatas, duas postularam ao Congresso e duas à Assembleia Legislativa. Leo Kret (PDT), candidata a deputada federal, foi a que se saiu melhor no pleito e conseguiu suplência com 9 mil votos. Também se candidatou ao Congresso Camila Parker (PV). Ambas são mulheres transexuais, não se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer.
Para deputadas estaduais, se candidataram Gabrielle Borges (Psol), conhecida como Nega Van – ela é travesti, identidade transexual especificamente feminina – e Rosy Silva (PDT), que é não-binária e não se identifica com nenhum gênero.
Mesmo não tendo levado o pleito, as baianas comemoram seu desempenho. “No país que mais mata transexuais no mundo, já é uma vitória ser candidata”, disse Nega Van ao Jornal da Metropole.
A presidente da Antra Keila Simpson avalia que o avanço das candidaturas é positivo para o país como um todo. “As meninas trans fizeram um papel bonito nessas eleições e conseguiram sair da bolha LGBTQIA +, não só levantando as bandeiras que defendem, mas também legislando para todo o povo brasileiro”.
Mas nem tudo são flores. Leo Kret destaca que há muito o que avançar. “As candidaturas cresceram em números, mas não em peso e competitividade na disputa. Há enormes desafios”, afirmou. O principal é a acesso ao financiamento de campanha, que ela descreve como “cruelmente desproporcional”
Nega Van concorda. Para ela, que enfrentou dificuldades para tocar a campanha sem o apoio financeiro necessário, a transfobia atrapalha o acesso a recursos. “As viagens pelo estado para chegar a outros eleitores, por exemplo, são caras e eu não tinha recurso para tocar isso”, lamentou.