Em 2018, último ano do governo Temer, o indicador estava em US$ 9.151,40 (R$ 49 mil).
Dados relativos à renda média do brasileiro também mostram esse empobrecimento. O rendimento médio caiu de R$ 2.823 no início de 2019 para R$ 2.613 no trimestre de março a maio deste ano, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Mesmo antes da pandemia, esse valor já vinha caindo: no trimestre de dezembro de 2019 a fevereiro de 2020, o rendimento médio do brasileiro estava em R$ 2.816.
No primeiro ano de Bolsonaro no Planalto, o programa Bolsa Família sofreu a maior queda da história, recuando de 14 milhões para 13 milhões de famílias. A fila de espera superou 1,5 milhão.
“Houve negligência em relação à situação social do país ainda antes da Covid”, diz a economista Débora Freire, professora do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais.
“Crises econômicas acontecem, trazem impactos negativos, mas faz muita diferença a forma como se lidam com elas. O governo agora usa esses eventos como desculpa, mas a verdade é que era seu dever fazer políticas públicas mais eficientes”, afirma ela.
“Antes da Covid, o Bolsa Família tinha filas enormes. Famílias que empobreceram na crise, já elegíveis para o programa, não estavam sendo atendidas. Isso não poderia ter acontecido, porque uma vez que uma família cai na extrema pobreza ela pode levar gerações para se recuperar.”
O economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do FGV-Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), acredita que a gênese do empobrecimento esteja na incapacidade dos governos de ajustar as contas públicas, o que elevaria a confiança das empresas para aumentar os investimentos, a geração de empregos e o aumento da renda.
“A minha visão é que o processo de empobrecimento gradual que vivemos decorre de um problema fiscal ainda não solucionado, e caminhamos para mais uma década perdida ainda sem um desfecho para esse problema.”
“Entre 2015 e 2016, a gente teve uma crise nas contas públicas, provocada pelo aumento de gastos do governo Dilma Rousseff, que buscava a reeleição, ali saímos do superávit para déficit primário.”
Já em 2015, os desembolsos da Assistência Social, sem contar o BPC (Benefício de Prestação Continuada), mas incluindo Bolsa Família e Auxílio Brasil, estagnaram na casa de R$ 43 bilhões até 2019, às vésperas da pandemia.
Deram um salto apenas depois da liberação do Auxílio Emergencial, que era para ser de R$ 200, mas chegou a R$ 600 após uma queda de braço entre governo e Congresso, que insistiu no aumento do valor.
Esses dados constam de um levantamento realizado pelos pesquisadores Carlos Bastos e Julia Braga do Grupo de Economia do Setor Público da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A dupla está finalizando um estudo sobre os efeitos do teto de gastos, desde a sua criação, sobre a aplicação do Orçamento. A conclusão é que ele funciona.
“O teto foi muito bem-sucedido em segurar os aumentos, mas fica claro também que as despesas com menos apoio político ou interesse do comando da vez são mais sacrificadas”, afirma Bastos. “Como a gente previu, os gastos sociais foram espremidos.”
Os recursos destinados a iniciativas que servem de apoio à ampliação do bem-estar social, em áreas como trabalho, saneamento, habitação, lazer e cultura, despencaram. Caíram de R$ 111,6 bilhões em 2015, um ano antes da criação do teto, para R$ 73,4 bilhões no ano passado, queda de 34% em valores ajustados pela infração.