Desfile da Independência é termômetro para pré-candidatos

Depois de dois anos sem o tradicional desfile popular, em função da pandemia, a comemoração da Independência da Bahia este ano, será o primeiro grande teste de popularidade dos postulantes às eleições de outubro.

A participação de governantes e candidatos no evento, que serve de vitrine e termômetro para as mais diversas campanhas, ganha contornos ainda mais especiais a poucos a três meses das eleições presidenciais e estaduais. O Dois de Julho pode confirmar ou contestar favoritismos e, certamente, servirá como baliza para definir os rumos das campanhas, sobretudo entre os postulantes ao Palácio de Ondina.

A presença dos principais presidenciáveis está confirmada, mas nem todos farão o mesmo trajeto. O desfile servirá também para celebrar, reforçar ou encaminhar as parcerias e apoios entre candidatos estaduais e nacionais.

A vinda do ex-presidente Lula (PT) é vista por militantes e aliados como um grande impulso nas pretensões do ex-secretário de educação, Jerônimo Rodrigues. A campanha do pré-candidato vem apostando na dobradinha com o líder na corrida presidencial e acredita no poder de transferência de votos de Lula.

“A presença de Lula na Bahia reafirmará com quem o maior presidente da história do Brasil caminhará nas eleições deste ano. Estaremos ao lado dele para reconstruir ao Brasil e manter os investimentos que a Bahia precisa para continuar crescendo na velocidade que os baianos e baianas se acostumaram com Rui Costa e Jaques Wagner. Lula é Jerônimo na Bahia e o Dois de Julho vai jogar ainda mais luz e energia nessa parceria”, diz o pré-candidato petista ao governo estadual.

Esse é o mesmo sentimento dos deputados que compõem o grupo de apoio a Jerônimo. Para o deputado federal Jorge Solla (PT), “a presença de Lula no Dois de Julho é a clara sinalização da prioridade que o presidente dará à disputa na Bahia. Isso é o que Lula sinaliza desde o início, vai entrar com tudo para apresentar Jerônimo ao povo baiano que ainda não o conhece, e lembrar como a aliança de ACM Neto com Bolsonaro tem sido prejudicial à Bahia. Com o voto do eleitor baiano, Lula estaria eleito no primeiro turno, disso, nem Neto duvida. O eleitor de Lula agora começa a ouví-lo falar de Jerônimo. Não tenho dúvidas, vamos ver uma virada na Bahia, mais uma vez”.

A deputada federal Lídice da Mata (PSB), lembra que não será a primeira vez que Lula vem ao Dois de Julho e que a ligação do ex-presidente com o Dois de Julho é antiga. “O que mostra um respeito grande pela participação destacada da Bahia na consolidação da independência no Brasil”. Sobre os efeitos no processo eleitoral, Lídice é taxativa. “A presença de Lula reforça Jerônimo? Creio que sim”, acrescenta a deputada.

Para a deputada federal Alice Portugal (PC do B) a simbologia do Dois de Julho este ano vai além. “Estaremos desfilando, na nossa compreensão, rumo a uma nova independência do Brasil. Porque, infelizmente, esses anos após o golpe contra a presidente Dilma, o Brasil mergulhou num profundo descaso para com as políticas públicas, para com os direitos da sociedade, arranhou a democracia e infelizmente, agora, nesse governo Bolsonaro, há instabilidade democrática, instabilidade e desrespeito às instituições e tudo isso nós esperamos corrigir nesse próximo período”.

Ovacionado

Não são apenas os apoiadores de Jerônimo que estão animados em relação ao Dois de Julho.  Os aliados do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), também têm boas expectativas para o desfile cívico. O próprio pré-candidato destaca o caráter democrático da festa.

“O 2 de Julho é a festa maior da democracia baiana, o momento em que todos os grupos políticos estão nas ruas para abraçar o povo. Uma tradição que a gente infelizmente teve que interromper por dois anos por conta da pandemia, mas agora é possível ser retomada. A gente sabe que aquele é um espaço democrático, de A a Z, da direita à esquerda, vai ter gente desfilando e levando a sua mensagem. Estarei lá com o povo, que é a minha grande aliança nessa pré-campanha”, anuncia Neto, que não atrelou seu nome a nenhum candidato a presidente. Pelo menos, até agora.

O deputado federal Marcelo Nilo (Republicanos) é mais incisivo e enxerga a data como uma oportunidade de afirmação. “Dois de julho é tradição em ano eleitoral os candidatos desfilarem.  Medirem suas forças. Acho que Neto vai ser ovacionado pelo soteropolitano”, projeta. O deputado estadual Sandro Régis (União Brasil), líder da minoria na Assembleia Legislativa, corrobora.

“A expectativa é excelente. O povo da Bahia, especialmente o de Salvador, reconhece as boas gestões de ACM Neto e Bruno Reis. O sentimento é que isso já se espalhou pelos quatro cantos do estado e a nossa gente quer sangue novo e mudança para o futuro da Bahia”, defende. Candidato a Senador, Cacá Leão (PP), também vê na festa a chance de medir sua popularidade. “O 2 de Julho, mais que uma data comemorativa, é um momento de manifestação política, social e cultural do povo baiano. E este ano, se Deus quiser, não vai ser diferente”.

Baba

Mas, apesar de não aceitar vinculação do seu nome a nenhuma candidatura presidencial, ACM Neto deverá ter a companhia de um dos postulantes ao Planalto. Ciro Gomes (PDT) já confirmou presença na festa. “O 2 de Julho é a festa brasileira de mais simbolismo popular de luta pela independência e pela afirmação do Brasil como nação soberana. Estas lutas continuam atuais e necessárias. O 2 Julho nos renova esta energia. Estarei em Salvador neste dia, exatamente por isso”, garante o presidenciável.

 

E, se depender do PDT baiano, caminhará ao lado de Neto. Pelo menos é o que indica o presidente estadual do partido, deputado federal Félix Mendonça Jr., que confirma a busca de um entendimento para construção de um palanque local para Ciro. “Estamos conversando ainda”, diz o deputado.

Como se trata do primeiro encontro público entre os pré-candidatos e seus seguidores,  Mendonça Jr. não descarta alguma animosidade, mas espera civilidade. “Você joga o baba, não entra pra derrubar ninguém, mas depende do adversário. Só não vou desejar sucesso nas eleições”.

A preocupação com atos hostis é compartilhada por outros políticos. Lídice não esconde a apreensão com relação à exposição de Lula. “É claro que eu tenho alguma preocupação com a segurança de Lula, por se tratar de um momento com muita gente na rua, tradicionalmente. Mas eu tenho certeza também, por outro lado, que em nenhum outro lugar Lula terá tanto carinho, tanta hospitalidade, tanto afeto em torno de si quanto na Bahia”, pondera a deputada.

Divisão

Boa parte desta apreensão se deve à presença, também aguardada, do Presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), cujos seguidores, reiteradamente, cobram aparições do ex-presidente petista em locais públicos, insinuando alguma hostilidade.

As chances de encontro entre as duas militâncias, no entanto, será reduzida. Circula nas redes sociais a convocação para uma motociata, com concentração no entorno da Arena Fonte Nova, seguindo em direção ao parque dos ventos, na Boca do Rio, orla de Salvador. Assessores dos candidatos ao governo estadual, João Roma, e ao Senado, Raíssa Soares (ambos do PL), não confirmaram as agendas, devido à antecedência, mas é certo que estarão no passeio motociclístico, longe do desfile cívico da Independência.

Se, por um lado, a motociata reduz as chances de trocas de agressões entre os eleitores de Lula e Bolsonaro, por outro servirá para aferir a divisão do eleitorado e demonstrar o peso das duas pré-candidaturas em solo baiano.

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