Ministro da Justiça diz que restos mortais foram encontrados no Amazonas

O ministro da Justiça Anderson Torres disse, na noite desta quarta-feira, que restos mortais foram encontrados no Amazonas pela Polícia Federal, na região onde desapareceram o jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo. Eles estão desaparecidos desde 5 de junho na região da Terra Indígena do Vale do Javari.

Mais cedo, um dos pescadores detidos pela PF confessou ter matado, esquartejado e ateado fogo nos corpos do jornalista e do indigenista. Duas pessoas estão presas, Osoney da Costa e Amarildo dos Santos. Eles foram vistos por testemunhas perseguindo a lancha dos profissionais.

De acordo com informações obtidas pelo R7, um dos suspeitos informou o local em que os corpos foram incendiados e abandonados. Equipes da Polícia Federal foram até a região para confirmar a informação. A partir de agora, as diligências tentam entender as motivações e as circunstâncias das mortes.

O desaparecimento do repórter e do indigenista, que é servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) repercutiram no Brasil e no exterior. Ambos estavam realizando pesquisas e entrevistas na região para a produção de um livro e de reportagens sobre invasões nas áreas indígenas. O Vale do Javari é uma localidade com atuação intensa de narcotraficantes, garimpeiros ilegais e madeireiros que tentam expulsar povos tradicionais da região.

O servidor da Funai, que estava licenciado de suas funções na fundação, era alvo de ameaças constantes por parte de garimpeiros e madeireiros na região. Segundo a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Bruno foi intimidado dias antes da viagem. As buscas foram coordenadas pela Policia Federal com o auxílio de outras forças de segurança.

Região de conflitos

A Terra Indígena Vale do Javari, onde Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips desapareceram, é palco de conflitos que envolvem garimpo, extração de madeira, pesca ilegal e narcotraficantes. Eles faziam o trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, a 1.135 quilômetros de Manaus.

Com 8,5 milhões de hectares, a terra indígena fica localizada no extremo oeste do Amazonas, na fronteira com o Peru, e abriga ao menos 14 grupos isolados — a maior população indígena não contatada do mundo. A área é a segunda maior terra indígena do país — atrás apenas da Yanomami, com 9,4 milhões de hectares — e tem acesso restrito, feito apenas por avião ou barco, já que a região não tem eixos rodoviários nem ferroviários próximos.

No entanto, o local em que o jornalista e o indigenista desapareceram costuma ser movimentado. A distância da comunidade ribeirinha São Rafael, onde a dupla foi vista pela última vez, até a cidade de Atalaia do Norte, onde fica o posto da Funai, pode ser percorrida em duas horas de viagem de barco.

São Rafael é, inclusive, a última vila antes do limite indígena demarcado pelo governo federal em 2001. É a delimitação do fim da sociedade não indígena e o início da sociedade indígena, marcada por conflitos que se arrastam há décadas na região. Com o aumento da pressão fundiária na região, São Rafael se tornou também o ponto de partida para a entrada de invasores no território indígena, principalmente pescadores e caçadores ilegais.

Nos últimos anos, a principal base da Funai no município, a que fica no rio Ituí-Itacoaí, foi alvo de diversos ataques a tiros. Em um ano, entre novembro de 2018 e dezembro de 2019, houve oito investidas contra o posto, que culminou na morte do indigenista Maxciel Pereira dos Santos, também colaborador da Funai. Dias antes, ele tinha recebido ameaças de morte de caçadores por sua atuação em defesa da terra indígena.

Se a leste da Terra Indígena a pressão é de pescadores, a oeste, na fronteira com o Peru, o Vale do Javari é pressionado por garimpeiros em busca de ouro e narcotraficantes. Nessa porção da terra, às margens do rio Jutaí, os grupos de indígenas isolados convivem com o avanço de garimpeiros.

 

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