A organização não governamental (ONG) Anistia Internacional divulgou hoje (6) as conclusões de “extensa investigação” feita na região de Kiev. Os dados reforçam o coro internacional de acusações de crimes de guerra atribuídas às tropas russas. A organização de defesa dos direitos humanos afirma ter documentado “ataques aéreos ilegais em Borodyanka”, além de “execuções extrajudiciais” em localidades como Bucha, Andriivka, Zdvyzhivka e Vorzel.
O relatório da Anistia Internacional – intitulado Ele não vai voltar: crimes de guerra nas áreas do noroeste do Oblast de Kiev – é baseado em dezenas de entrevistas feitas na área e em “revisão extensa de provas materiais”.A delegação da ONG enviada à Ucrânia foi liderada pela secretária-geral da organização. Foram ouvidos sobreviventes, familiares de vítimas e autoridades ucranianas.
“O padrão de crimes cometidos por forças russas que documentamos inclui ataques ilegais e mortes deliberadas de civis”, afirmou Agnès Callamard, em entrevista.
“Estivemos com famílias cujos entes queridos foram mortos em ataques horríveis e cujas vidas mudaram para sempre por causa da invasão russa. Apoiamos sua exigência de justiça e apelamos às autoridades ucranianas, ao Tribunal Penal Internacional e a outros para que garantam a preservação de provas que possam suportar futuras acusações de crimes de guerra”, acrescenta. “É vital que todos os responsáveis, incluindo o topo da cadeia de comando, sejam levados à Justiça”.
De Bucha a Dmytrivka
Em Borodyanka, informa a organização, foi documentada a morte de pelo menos 40 civis “em ataques desproporcionais e indiscriminados, que devastaram um bairro inteiro e deixaram milhares de pessoas sem casa”. Em Bucha e outras cidades e vilas localizadas a noroeste de Kiev, a Anistia registrou 22 casos de assassinatos pelas forças russas, a maior parte aparentes execuções extrajudiciais.
Uma das testemunhas de Bucha citada no relatório é Oleksii Sychevky, que perdeu a mulher e o pai quando a coluna de veículos civis em que seguiam foi alvejada por forças russas.
“A coluna era de civis em fuga. Quase todos os carros tinham crianças. Quando o nosso carro alcançou uma linha de árvores, ouvi tiros – primeiro tiros isolados, depois uma explosão de disparos”, contou Sychevky.
“Os disparos atingiram o primeiro veículo da coluna e pararam. Estávamos no segundo veículo e tivemos de parar. Fomos então atingidos. Pelo menos seis ou sete disparos. O meu pai foi morto instantaneamente por uma bala na cabeça. A minha mulher foi atingida por estilhaços de metal e o meu filho foi também atingido”, descreveu
A investigação da ONG durou 12 dias. Os membros enviados à Ucrânia recolheram os depoimentos de “moradores de Bucha, Borodyanka, Novyi Korohod, Andriivka, Zdvyzhivka, Vorzel, Makariv e Dmytrivka”. Visitaram também outros locais em que ocorreram muitas mortes.
Foram ouvidas 45 pessoas que testemunharam ou tinham conhecimento, em primeira mão, de mortes de familiares e vizinhos por soldados russos. Mais 39 viram ou tinham conhecimento, em primeira mão, de ataques aéreos que atingiram oito edifícios residenciais.
A Anistia Internacional relaciona, em seu portal, toda a documentação de violações de direitos humanos e internacional humanitário cometidas durante a guerra na Ucrânia.
“Todos os responsáveis por crimes de guerra deveriam ser responsabilizados por suas ações. Considerando a responsabilidade de comando, superiores hierárquicos – incluindo comandantes e líderes civis como ministros e chefes de Estado – que tenham conhecimento de crimes cometidos por suas forças, mas que não tentaram travá-los ou punir os responsáveis, deveriam também ser criminalmente responsabilizados”, disse a organização.
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