O presidente Jair Bolsonaro (PL) participou neste neste domingo (1º) de dois atos de ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal). Um dia antes, Bolsonaro havia estimulado a participação dos manifestantes.
Assim, ao ignorar o apelo de aliados, mantém em alta a temperatura do clima de tensão com Judiciário, iniciada desde a condenação do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) pela corte.
Os atos foram convocados sob a alegação de defesa de Silveira, beneficiado por um indulto individual de Bolsonaro dado horas após a condenação pelo STF. O deputado bolsonarista participou presencialmente dos protestos do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Neste 1º de maio, pela manhã, Bolsonaro foi a ato esvaziado contra o STF na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Lá, cumprimentou os presentes. À tarde, entrou ao vivo em vídeo no protesto da avenida Paulista, em São Paulo, onde aliados promoveram ataques ao STF e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Foi de um carro de som na avenida Paulista, no 7 de Setembro do ano passado, que Bolsonaro exortou desobediência a decisões judiciais e xingou o ministro Alexandre de Moraes,do STF, relator de inquéritos que têm como alvo o presidente e seus aliados.
Antes disso, em abril de 2020, o inquérito dos atos antidemocráticos foi aberto no STF a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) para investigar aliados do presidente envolvidos com as manifestações que defendiam o fechamento de STF e Congresso, além da volta da ditadura militar.
Na última sexta-feira, Bolsonaro havia modulado o discurso de crítica ao Supremo. Em entrevista à rádio disse que não quer peitar a corte, mas afirmou que ela cometeu excesso.
Já ministros do STF, após a nova ofensiva do presidente com ataques ao Judiciário e ao sistema eleitoral, reagiram em série em defesa das urnas e das instituições democráticas e contra pressões políticas na corte.
As declarações ocorrem depois de dias de silêncio ou discrição dos magistrados em meio à tensão entre os Poderes, desencadeada pelo indulto concedido por Bolsonaro a Silveira após sua condenação pelo STF a 8 anos e 9 meses de prisão e agravada por falas do ministro Luís Roberto Barroso sobre as Forças Armadas, rebatidas pelo Ministério da Defesa.
Aliados do presidente defendiam que ele não participasse dos atos neste domingo, por temor de acentuar a crise entre os Poderes. Já integrantes do Legislativo e do Judiciário temiam que as manifestações poderiam reeditar os atos de raiz golpista de 7 de Setembro do ano passado.
A tensão da semana passada ganhou um novo capítulo na quarta-feira (27), quando Bolsonaro promoveu um evento oficial no Palácio do Planalto com deputados aliados no qual reforçou ataques ao STF e cobrou a participação de militares na apuração dos votos pelo TSE nas eleições deste ano.
Batizada de “ato cívico pela liberdade de expressão”, com transmissão ao vivo pela TV Brasil, a mobilização foi liderada pelas bancadas evangélica e da bala do Congresso, como uma forma de demonstrar apoio ao presidente em meio ao embate com a corte.
Neste domingo, em Brasília, a manifestação foi esvaziada, enchendo menos de uma quadra da Esplanada dos Ministérios. O presidente ficou por cerca de dez minutos e cumprimentou apoiadores.
“[Vim] cumprimentar o pessoal que está aqui na manifestação pacífica em defesa da Constituição, da democracia, e da liberdade. Então parabéns a todos de Brasília, bem como todos brasileiros que hoje estarão nas ruas”, disse em live aberta em suas redes sociais.
Em um dos trios elétricos, havia uma faixa estendida pedindo a criminalização do comunismo e a destituição dos 11 ministros do Supremo.
“Senhores senadores! Nas urnas, iremos nos lembrar das vossas omissões frente a membros do STF”, dizia outra, pela qual Bolsonaro passou quando esteve no local.
O Senado é responsável por analisar pedidos de impeachment de ministros do STF, defendidos por bolsonaristas, mas que nunca vingaram no Parlamento. Outro manifestante carregava cartaz contra “a ditadura da toga”.
Os discursos nos carros de som na Esplanada criticaram o STF e o Judiciário de forma geral, atribuindo à corte supostos ataques ao demais Poderes e à Constituição.
Diferentemente das manifestações de setembro, desta vez, as críticas citavam menos nomes de ministros, ainda que o de Alexandre de Moraes tenha surgido.
Relator dos inquéritos que tem Bolsonaro e seus aliados como alvos, foi citado como alguém que “desrespeita as liberdades”. Ele também foi responsável pelo caso de Silveira na corte.
Em São Paulo, Bolsonaro participou de forma virtual, ao vivo em vídeo, direto do Palácio da Alvorada, em Brasília.
Ele fez rápido discurso no qual enalteceu seus apoiadores e disse dever “lealdade a todos vocês” e que irá “onde vocês estiverem”. Ele falou ainda em “liberdade” e repetiu ser o chefe de um governo que “acredita em Deus” e que “respeita os militares, defende a família e deve lealdade a seu povo”.
Ele falou de novo que o “bem sempre vence o mal” e finalizou: “Deus, pátria e família”.
Na Paulista, manifestantes exibiam cartazes e faixas contra o Poder Judiciário. “Bolsonaro exerça seu poder constitucional”, “Tribunal Superior Eleitoral é um partido político inimigo do Brasil” e “juízes da Suprema Corte dão suporte a ladrões corruptos e criminosos do Brasil” eram algumas das frases.
Outros pediam o impeachment dos ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Moraes foi ainda chamado de “Xandão” por manifestantes que pediam a sua saída do Supremo.
Palavras contra STF, TSE e gritos antidemocráticos marcaram os discursos de quem estava nos caminhões da organização do ato na avenida. Em diversos momentos a Polícia Militar e o Exército brasileiro foram exaltados pelos manifestantes.
O ato do 1º de Maio das centrais sindicais, com a participação do ex-presidente Lula (PT), ocorreu em frente ao estádio do Pacaembu, a cerca de 3 km da Paulista. Segundo a PM, não houve registro de confronto entre os manifestantes.
Folhapress