O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, falou nesta segunda-feira (18) sobre os áudios do Superior Tribunal Militar (STM), divulgados neste domingo (17), que trazem relatos de ministros da Corte sobre a prática de tortura durante a ditadura militar no Brasil entre 1964 e 1985. Perguntado sobre uma possível apuração a respeito de excessos cometidos pelo regime, Mourão respondeu “apurar o quê? Os caras já morreram tudo. Vai trazer os caras do túmulo de volta? Nada”, afirmou.
“Isso é história, isso já passou, né? É a mesma coisa que a gente voltar pra ditadura do Getúlio, né? Então, são assuntos já escritos em livros, debatidos intensamente. É passado, faz parte da história do país”, disse o vice-presidente. Segundo Mourão, houve excesso dos dois lados – do regime e de seus oponentes. “Não vamos esquecer o tenente Alberto (Mendes Júnior), lá da PM de São Paulo, morto a coronhadas pelo (Carlos) Lamarca (militar desertor que combateu a ditadura) e os facínoras dele.”
O vice-presidente disse que houve uma luta entre “organizações que queriam implantar a ditadura do proletariado” e o Estado brasileiro. “Era um regime que na época atraía, vamos dizer assim, uma quantidade grande da juventude brasileira e também parcelas da sociedade, mas que perderam essa luta”, declarou em referência ao movimento que se opunha à ditadura.
Conversas de sessões do STM apontam que forças de segurança usaram métodos violentos para obter depoimentos de pessoas contrárias ao governo militar. Os áudios foram obtidos e analisados pelo historiador Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em um dos trechos, na sessão de 19 de outubro de 1976 do tribunal militar, o ministro almirante Júlio de Sá Bierrenbach afirma que “o que não podemos admitir é que o homem, depois de preso, tenha sua integridade física atingida por indivíduos covardes, na maioria das vezes, de pior caráter que o encarcerado”.
“Já é tempo de acabarmos de uma vez por todas com os métodos adotados por certos setores policiais de fabricarem indiciados, extraindo-lhes depoimentos, perversamente, pelos meios mais torpes, fazendo com que eles declarem delitos que nunca cometeram, obrigando-os a assinar declarações que nunca prestaram e tudo isso é realizado por policiais sádicos, a fim de manterem elevadas as suas estatísticas de eficiência nos esclarecimentos de crimes”, declara.