BRASÍLIA, 17 Mar (Reuters) – Líderes e defensores tribais brasileiros criticaram nesta quinta-feira a concessão de um prêmio de direitos indígenas ao presidente Jair Bolsonaro, chamando-o de “atrocidade” que ignora seu histórico de desmantelar as proteções para os povos nativos e o meio ambiente.
O ministro da Justiça, Anderson Torres, entregou nesta quarta-feira a Medalha do Mérito Indígena ao seu chefe, Bolsonaro, em “reconhecimento por relevantes serviços” na defesa das comunidades indígenas.
Mas indígenas brasileiros e ativistas ambientais disseram que era inapropriado dar tal prêmio ao ex-capitão do Exército, que questionou a veracidade do aquecimento global, apagou as proteções ambientais e pressionou para permitir a mineração e a exploração de petróleo em reservas indígenas.
“É uma atrocidade homenagear um presidente que se opôs descaradamente aos indígenas”, disse a deputada Joenia Wapichana, a segunda deputada indígena a ter assento na legislatura brasileira. Ela apresentou um projeto de lei para anular o decreto que dá a medalha a Bolsonaro.
Um ex-recipiente do prêmio disse que o devolveria em protesto.
O etnógrafo Sydney Possuelo, uma das maiores autoridades em tribos amazônicas isoladas que ganhou a mesma condecoração há 35 anos por seu trabalho na criação da reserva Yanomami, disse que não queria mais a medalha. Em um comunicado, ele disse que “perdeu todo o significado”.
Líderes dos 900.000 povos indígenas do Brasil dizem que Bolsonaro foi o presidente mais prejudicial em quatro décadas de democracia por seus direitos e reivindicações por terras ancestrais.
Apoiado pelo poderoso lobby agrícola do Brasil, Bolsonaro há muito defende um maior desenvolvimento da Amazônia, a maior floresta tropical do planeta.
No cargo, ele desfinanciou a agência governamental de assuntos indígenas Funai e disse que seu governo não reconheceria mais um centímetro de terra reivindicada por tribos.
Em 2020, ele provocou indignação ao dizer: “O índio evoluiu e se tornou cada vez mais um ser humano como nós”, acrescentando que queria que eles se integrassem mais à sociedade brasileira.