Pais citam burocracia e custos com cópias como empecilhos para vacinar crianças em Salvador

Depois de quase dois anos em pandemia, as famílias brasileiras podem vislumbrar a proteção das suas crianças contra a Covid-19. Recentemente, a vacinação dos pequenos, entre 5 e 11 anos, foi autorizada no país. Em Salvador, porém, os pais e responsáveis relatam uma série de empecilhos para concretizar a ação.

É o caso de Fernanda Uzêda, de 32 anos, mãe de um menino de 11. Ela foi andando com a criança até o posto de imunização do Parque da Cidade, localizado entre os bairros da Santa Cruz e Itaigara, na capital baiana, com a esperança de, finalmente, vacinar o seu filho.

Depois de enfrentar uma fila no local, o filho de Fernanda não pôde ser vacinado e teve que retornar para casa. Isso porquê, para que as crianças sejam vacinadas, além dos documentos originais, são exigidas as cópias dos documentos do acompanhante e da criança. Desempregada, a mãe explica que não tinha dinheiro para tirar as cópias.

“Eu me dirigi ao Parque da Cidade caminhando, com o meu filho de 11 anos, com todos os documentos necessários. Mas eu não tinha xerox, não tinha dinheiro para tirar”, conta Fernanda. “É um absurdo. Tem gente que vive de auxílio e tem quer ter xerox para vacinar?”, questiona.

Segundo ela, outras pessoas no local também desistiram de vacinar as suas crianças por causa da vasta exigência de documentos. Além deles e das suas cópias, também é exigido um formulário de vacinação, que, no caso de representantes que não sejam pai ou mãe, precisa ser impresso antecipadamente com o preenchimento e coleta da assinatura de um dos progenitores.

“Sinceramente, me senti muito chateada e sem esperança. A vacina é um direito de todas as pessoas e se foi dado o aval para as crianças, isso deveria ser facilitado, mas ficou mais difícil do que para os adultos. Por que tanta burocracia, as crianças são menos importantes?”, lamentou Fernanda.

Administradora do perfil “covidsalvador” no Twitter, que divulga informações, dados e gráficos sobre a Covid-19 na cidade, Marcella Marconi diz que tem observado muitas situações parecidas com a de Fernanda em Salvador. Diante disso, ela critica os critérios utilizados para a vacinação das crianças.

“Desde que foi anunciada, eu e outras pessoas estamos questionando os critérios. Primeiro, o termo de autorização, que mudaram para termo de vacinação, mas ainda é todo problemático. Depois, as cópias de documentos. Também tem o próprio recadastramento [do SUS] que a prefeitura exige, é um absurdo, outra causa de exclusão e não acesso das pessoas à vacinação”, cita.

De acordo com ela, a burocracia tem atrasado a vacinação de crianças, que precisaria ser feita “o mais rápido possível”. Além disso, Marcella ressalta que os postos de vacinação estão em “pontos muito centrais da cidade” em um município onde “muitas pessoas não têm dinheiro nem para o transporte, quem dirá para tirar cópias de uma cota de documentos”.

Por fim, Marcella questiona o motivo da exigência das cópias. “A prefeitura em nenhum momento informa o porquê de estar pedindo a cópia do documento, o que está sendo feito com isso”.

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que apenas segue as regras do Ministério da Saúde, decididas, na Bahia, por intermédio da Comissão de Intergestores Bipartite (CIB). O departamento ressalta que não tem atribuição para determinar a exigência dos documentos.

Postagens Relacionadas

Leave a Comment