Nada diferente, portanto, das premiações de associações de críticos de Nova York ou Los Angeles, e longe da festa animada regada a champanhe de anos anteriores, considerada um esquenta para o Oscar.
A HFPA foi acusada de falta de ética e ausência de membros negros em uma série de reportagens do jornal Los Angeles Times, depois que a jornalista norueguesa Kjersti Flaa entrou com uma ação alegando que a organização é um cartel. Flaa, que teve sua admissão na entidade recusada diversas vezes, perdeu a ação.
Mas as denúncias causaram boicote dos artistas e dos estúdios, motivando a associação a prometer uma série de mudanças, com admissão de 21 membros e consultoria sobre diversidade e ética. A NBC achou melhor não transmitir a premiação até que resultados dessas reformas estejam consolidados.
“O Globo de Ouro é uma ponte para uma audiência mundial de muitas cores, muitas fés, muitas culturas, unidas por uma mesma paixão – o amor ao cinema”, disse Helen Hoehne, presidente da HFPA, na “abertura” do evento, que aconteceu sem presença de público, imprensa externa ou indicados na noite deste domingo, em Los Angeles.
Em tese alguns prêmios foram apresentados por representantes das organizações apoiadas pela HFPA, que declarou ter feito doações totalizando US$ 50 milhões nas últimas décadas. “Em tese” porque não havia nem vídeo nem fotos para demonstrar, não fazendo sentido para quem estava acompanhando em casa.
Mas, já que havia apenas membros da HFPA na plateia, eles faziam sentido para quem estava lá? Para quem eram esses discursos? Foi assim que a HFPA e a Associação para o Progresso de Pessoas Não-Brancas (National Association for the Advancement of Colored People, NAACP) anunciaram uma parceria durante a cerimônia para buscar uma maior representatividade em toda a comunidade de Hollywood.
Não houve surpresas nas duas principais categorias da noite. Como esperado, Ataque dos Cães, de Jane Campion, foi o melhor drama, Amor, Sublime Amor (West Side Story), de Steven Spielberg, foi a melhor comédia ou musical do ano.
Encanto, da Disney, foi eleito pela HFPA a melhor animação do ano. O Globo de Ouro de melhor filme em língua não-inglesa foi para o japonês Drive My Car, de Ryusuke Hamaguchi.
Poucas horas antes da cerimônia, a revista Variety publicou uma reportagem dizendo que nenhum filme em língua não-inglesa ou animação estava na cédula para votação como melhor filme, seja drama ou comédia/musical – a inclusão dessas produções era uma das promessas de alterações de regras do Globo de Ouro e tinha sido anunciada pela organização em junho.
Um porta-voz da HFPA disse à Variety que os membros sabiam das mudanças e que podiam votar em filmes de língua não-inglesa e animações, mas a revista mantém que as cédulas não incluíam filmes desses tipos.
Jane Campion foi eleita a melhor diretora, por Ataque dos Cães. É o segundo ano consecutivo que uma mulher leva o prêmio de direção – Chloe Zhao ganhou em 2021 por Nomadland -, e Campion tornou-se a terceira mulher a ganhar o troféu.
O Globo de Ouro de ator de drama foi para Will Smith por King Richard – Criando Campeãs, de Reinaldo Marcus Green. É a primeira vitória do ator depois de seis indicações. Nicole Kidman ganhou o troféu de melhor atriz de drama por Being the Ricardos, de Aaron Sorkin. Este é o quinto prêmio de Kidman, que concorreu 17 vezes ao Globo de Ouro.
O pontapé inicial da temporada de premiações foi gelado, sem nenhuma graça ou glamour. A razão, neste caso, é bem específica: o imbróglio em que a HFPA está metida. Mas a verdade é que, com a variante ômicron se alastrando pelos Estados Unidos, as chances de outras premiações serem novamente virtuais são grandes.
O Oscar ainda tem esperança de uma curva descendente rápida de casos, porque acontece apenas no fim de março. Mas essa pandemia já provou que não tem medo de ser estraga-prazeres. A única vantagem é que, mesmo se o SAG ou o Oscar for virtual, pelo menos vai dar para ver os premiados recebendo prêmios.