Cinco anos depois de conquistar o inédito ouro olímpico no boxe brasileiro, o baiano Robson Conceição entra no ringue para adicionar mais um título ao seu currículo. Ele enfrenta o atual campeão mundial, Oscar Valdez, neste sexta-feira, 10, em combate programado para começar às 23h (da Bahia), no Casino Del Sur, no estado do Arizona (Estados Unidos). Em jogo está uma revanche pessoal para o mexicano – e, principalmente, o cinturão da categoria super-pena (até 58 kg).
No Pan-Americano de 2009, disputado na Cidade do México, os dois se enfrentaram pela primeira vez, ainda como amadores. Robson derrotou Valdez na casa do rival, calou a torcida mexicana e fez com que ele nunca esquecesse dos seus punhos. Mesmo mais de dez anos depois dos eventos daquele dia, uma carreira vitoriosa e um cinturão de campeão do mundo sob sua guarda, o sentimento de vingança ainda não saiu da cabeça de Oscar Valdez.
“Eu e Robson temos uma rivalidade desde o amador muito forte. Eu sou uma pessoa que sinto muito as derrotas e senti muito ter perdido para ele. Eu disse a mim mesmo depois de perder para ele que iria vê-lo novamente. Quando fomos ao profissional, cada um seguiu seu caminho, mas sempre pensei em ter uma revanche. É uma oportunidade, e uso isso como motivação. Respeito muito Robson como pessoa, mas farei todo o possível para arrancar-lhe a cabeça. A luta com Conceição é um grande desafio para mim. Farei todo o possível para vencê-lo”, disparou o mexicano, que nunca perdeu desde que estreou no boxe profissional – ostenta um impressionante cartel de 29 triunfos, sendo 23 deles por nocaute.
Robson também tem repertório de sucesso. Desde que trocou os ringues olímpicos pelos do boxe profissional, venceu todas as suas lutas – foram 16, e em metade delas por nocaute direto.
Por isso, não é de se assustar que o baiano tenha encarado a provocação do seu adversário e aproveitado para revidar. “Naquela época [do Pan-Americano] ninguém esperava que eu ganhasse dele. Ele era campeão mundial júnior, a luta era no México. Estou pronto para ganhar na casa dele de novo, porque a luta agora é no Arizona e a família dele vive lá. Vou lá pronto pra trazer o cinturão”.
Quase não tem luta
Na semana passada, Oscar Valdez foi flagrado em teste antidoping. O exame foi feito pela VADA (Associação Voluntária Antidopagem), como parte do Programa de Boxe Limpo, da WBC (Conselho Mundial de Boxe). A VADA constatou a presença da substância fermentina, que é um estimulante do sistema nervoso, mas serve também como um inibidor de apetite e facilita a perda de peso – sempre uma dificuldade para os atletas antes da pesagem oficial (na tarde de quinta, 9, por exemplo, Valdez teve de retirar até as meias para não bater o limite de peso).
Apesar disso, o combate desta sexta foi confirmado. A principal razão para isso é que ainda há muito debate sobre a permissão ou não da utilização de fermentina. A VADA não aprova, mas a Agência Mundial Antidopagem permite o uso dessa substância até 23h59 da véspera de um combate. Um segundo teste foi realizado no dia 30 de agosto e deu negativo para esta substância e as demais proibidas.
Teve quem não gostou da decisão, como o ex-campeão mundial Timothy Bradley. “Eu era fã de Oscar Valdez, então não me sinto bem. Isso realmente me machucou, mas agora estou cansado da situação e não acho que qualquer um se importa. Ele deu positivo. Todos podem pensar o que quiserem, eu acho que ele está sujo”.
Atualmente comentarista de boxe nos Estados Unidos, Bradley comentou que sua torcida está com Robson. “Eu gostaria de ver Conceição nocautear Valdez. Espero um milagre. Se essa luta continuar, se nada mudar, espero que ele o nocauteie seriamente”. O fato é que a luta vai acontecer e, mais de cinco anos depois do ouro olímpico, Robson tem a chance de mais um feito dourado.
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