Foto da revista Exame/
Não se fala em outra coisa. Uma nova onda de contaminações por Covid-19 vai passando pelo país, acompanhada pela circulação de outro tipo de gripe, mais forte e mais transmissível. Se, por um lado, a vacinação dá sinais de que consegue conter novo pico de mortes pela doença, por outro, o aumento da contaminação está tirando de circulação a força de trabalho em diversos setores.
Setores intensivos em mão de obra e circulação de pessoas, como supermercados, transporte coletivo, bares e restaurantes sentem o aumento de afastamentos e começam a se preocupar com uma eventual piora do quadro.
Pedro Hermeto, da Abrasel (Associação de Bares e Restaurantes) no Rio, diz que há cerca de 15 dias o surto da nova gripe, causada pelo vírus H3N2, levou restaurantes de pequeno e médio porte a fecharem por alguns dias.
O dirigente também viu a própria equipe ficar desfalcada. De 50 funcionários, chegou a ter nove em licença médica no início de dezembro. “Naquele momento, foi o surto de gripe e achamos que o de ômicron deve chegar em alguns dias. Estamos vendo os casos se aproximando e nos roubando a mão de obra”, diz.
A solução, hoje, segundo Hermeto, tem sido reforçar as listas de extras, comuns no setor de bares e restaurantes. A maioria tem uma equipe fixa para os dias com menos movimento, e uma outra, flutuante, para os dias de ocupação maior.
“Temos que intensificar os contatos com as listas. Há uma falta geral de mão de obra nessa retomada das atividades que torna mais difícil manter os extras”, afirma.
O crescimento nos casos de Covid-19 não preocupa o empresariado apenas pela redução na força de trabalho disponível. Vem também da lembrança fresca de portas fechadas ou de restrições ao horário de atendimento e à lotação. A expectativa com o verão deste ano era de casa cheia e recuperação econômica.
“Isso é um sinal que temos de continuar nos cuidando cada vez mais. Financeiramente, voltamos uns 20 anos. Os que não fecharam as portas assumiram dívidas exorbitantes com bancos”, diz. Para ele, é fundamental que os eventos alusivos ao Carnaval sejam cancelados.
No transporte coletivo urbano de São Paulo, o número de atestados médicos apresentados por motoristas, cobradores e funcionários da manutenção subiu cerca de 35%, segundo levantamento da SPUrbanuss, sindicato das empresas do setor.
Esses afastamentos ocorreram porque os trabalhadores tinham sintomas de gripe, de Covid-19, de resfriado e dor de garganta.
Para lidar com a possibilidade de mais afastamentos, as empresas deverão contar com a reserva técnica, uma sobra de veículos e funcionários prevista no contrato de concessão. Dos cerca de 14 mil ônibus da frota, 13 mil estão em operação diariamente. Uma empresa também pode acionar a reserva de outra para cobrir licenças médicas ou necessidades excepcionais.
A Apas (Associação Paulista de Supermercados) diz ter observado uma concentração de casos de gripe na capital paulista e em algumas regiões do estado.
“Seguindo as regras sanitárias, os funcionários com sintomas de gripe são orientados a procurar o serviço de saúde e permanecer afastados do trabalho pelo período de quatro a cinco dias”, diz a entidade, em nota.
A reposição de funcionários nos supermercados gera um custo extra às redes, segundo a Apas. “Mas, graças à capilaridade de sua rede e à ampla margem de negociação com fornecedores e com a indústria, o setor consegue absorver esse custo excedente sem repassá-lo aos produtos ofertados nas lojas.”
Em outros países, onde as novas ondas de alta na contaminação pela ômicron chegaram antes do Brasil, há relatos de empresas fechadas e problemas em serviços públicos. Nos Estados Unidos, o jornal The New York Times mostrou que, além dos afastamentos, os empregadores não sabem ao certo qual é o tempo de isolamento necessário antes do retorno ao trabalho.
No Reino Unido, o trabalho após o recesso de fim de ano seria retomado nesta terça (4), mas serviços como hospitais e escolas estavam com escassez de funcionários pois muitos estavam doentes ou em isolamento por estarem contaminados, disse a AFP. Até o serviço ferroviário precisou diminuir o ritmo, pois tinha menos gente trabalhando.